sexta-feira, 20 de março de 2009


Resumo III . (livro)

_Obrigado ainda uma vez, Peri; não pela vida que me salvaste mas pela estima que me tens. E o moço apertou a mão do selvagem.
_Não agradece; Peri nada fez; quem te salvou foi a senhora. Álvaro sorriu-se da franqueza do índio, e corou da alusão que havia em suas palavras.
_Se tu morresses, a senhora havia de chorar; e Peri quer ver a senhora contente.
_Tu te enganas; Cecília é boa, e sentiria da mesma maneira o mal que sucedesse a mim, como a ti, ou a qualquer dos que está acostumado a ver.

_Peri sabe por que fala assim; tem olhos que veem, e ouvidos que ouvem; tu és para a senhora o sol que faz o jambo corado, e o sereno que abre a flor da noite.
_Peri!... exclamou Álvaro.
_Não te zangues, disse o índio com doçura; Peri te amo, porque tu fazes a senhora sorrir. A cana quando está à beira d'água, fica verde e alegre; quando o vento passa, as folhas dizem Ce-ci. Tu és o rio; Peri é o vento que passa docemente, para não abafar o murmúrio da torrente; é o vento que curva as folhas até tocarem n'água. Álvaro fitou no índio um olhar admirado. Onde é que este selvagem sem cultura aprendera a poesia simples, mas graciosa; onde bebera a delicadeza de sensibilidade que dificilmente se encontra num coração gasto pelo atrito da sociedade? A cena que se desenrolava a seus olhos respondeu-lhe; a natureza brasileira, tão rica e brilhante era a imagem que produzia aquele espírito virgem, como o espelho das águas reflete o azul do céu. Não é isso a poesia? O homem que nasceu, embalou-se e cresceu nesse berço perfumado, no meio de cenas tão diversas, entre o eterno contraste do sorriso e da lágrima, da flor e do espinho, do mel e do veneno, não é um poeta? Poeta primitivo, canta a natureza na mesma linguagem da natureza; ignorante do que se passa nela, vai procurar nas imagens que tem diante dos olhos a expressão do sentimento vago e confuso que lhe agita a alma. Sua palavra é a que Deus escreveu com as letras que formam o livro da criação; é a flor, o céu, a luz, a cor, o ar, o sol; sublimes coisas que a natureza fez sorrindo. A sua frase corre como o regato que serpeja, ou salta como o rio que se despenha da cascata; às vezes se eleva ao cimo da montanha, outras desce e rasteja como o inseto, sutil, delicada e mimosa. O moço recebeu a confissão ingênua do índio sem o mínimo sentimento hostil; ao contrário, apreciava a dedicação que o selvagem tinha por Cecília, e ia ao ponto de amar a tudo quanto sua senhora estimava.
_Assim, disse Álvaro sorrindo, tu só me amas por que pensas que Cecília me quer?

_Peri só ama o que a senhora ama porque só ama a senhora neste mundo: por ela deixou sua mãe, seus irmãos e a terra onde nasceu.
_Mas se Cecília não me quisesse como julgas?
_Peri faria o mesmo que o dia com a noite; passaria sem te ver.
_E se eu não amasse a Cecília? _Impossível! _Quem sabe? disse o moço sorrindo.
_Se a senhora ficasse triste por ti!... exclamou o índio, cuja pupila negra irradiou.

_Peri te mataria. Peri temeu ofender o moço; para desculpar a sua franqueza, disse com um tom comovido: _Escuta, Peri é filho do sol; e renegava o sol se ele queimasse a pele alva de Ceci. Peri ama o vento; e odiava o vento se ele arrancasse um cabelo de ouro de Ceci. Peri gosta de ver o céu; e não levantava a vista, se ele fosse mais azul do que os olhos de Ceci.
_Compreendo-te amigo; votaste a tua vida inteira á felicidade dessa menina. Não receies que te ofenda nunca na pessoa dela.
Sabes se eu a amo; e não te zangues, Peri, se disser que a tua dedicação não é maior do que a minha. Antes que me matasses, creio que me mataria a mim mesmo se tivera a desgraça de fazer Cecília infeliz. _Tu és bom; Peri que que a senhora te ame.

* corar = ficar vermelho
* embalar = mover docemente, empacotar
* serpejar = arrastar-se pelo chão
* sutil = fino, delgado
* hostil = inimigo, agressivo
* alvo = branco, claro

G.MATTOS & L.MEGALE . Português 2º grau . editora : FTD . páginas 220 à 221

9 comentários:

  1. 1. José de Alencar afirma que o amor de Peri por Cecília era uma espécie de culto, de religião. O texto lido confirma isso?

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  2. 2. Baseando-se no que vocês aprenderam sobre o indianismo de Gonçalves Dias, destaque os pontos em comum entre esse autor e José de Alencar quanto à representação literária do indígena brasileiro.

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  3. 3. O Indianismo encontrou alto nível de criação literária nas obras de dois grandes autores do Romantismo. Quais são eles?

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  4. Grupo AMM:

    1)Sim confirma, pois nos valores religiosos da cultura indígena podemos notar as mesmas caracteristicas da obra. Na psicologia e nas ações de Peri, se indetifica como um verdadeiro cavaleiro das antigas,perdido em florestas com um destino a cumprir.
    Tanto que índios são considerados heróis.

    2)- uso lírico de um índio ainda não deculturado pelo homem branco;mas que se mistura com a raça brabca criando uma nova etinia.
    - poema em que se narram ações heróicas grandiosas, da bravura e da generosidade dos índios ainda que momentânea.

    3)Gonçalves Dias e José de Alencar.

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  5. Sim confirma, pois nos valores religiosos da cultura indígena podemos notar as mesmas caracteristicas da obra. Na psicologia e nas ações de Peri, se indetifica como um verdadeiro cavaleiro das antigas,perdido em florestas com um destino a cumprir.
    Tanto que índios são considerados heróis.

    Texto beeeem confuso. Refazer resposta.

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  6. poema em que se narram ações heróicas grandiosas, da bravura e da generosidade dos índios ainda que momentânea.
    Não entendi.

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  7. O Indianismo encontrou alto nível de criação literária nas obras de dois grandes autores do Romantismo. Quais são eles?
    Grupo AMM deve refazer pergunta.

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  8. Nova pergunta substituindo a pergunta 3.
    3. Qual a condição que o pai de Cecília impoz para que Peri pudesse salvar Cecília?

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